Garrosh Grito Infernal, Chefe Guerreiro da Horda, é o testamento vivo dos perigos da violência desmedida.
Garrosh nasceu no mundo natal dos orcs, Draenor, e cresceu imaculado pelo sangue demoníaco que corrompeu os orcs que invadiram Azeroth. Apesar de não ter sido influenciado pelos demônios, Garrosh era atormentado por um legado familiar: seu pai, Grom Grito Infernal, foi o primeiro orc a abraçar a corrupção bebendo o sangue do lorde abissal Mannoroth. Garrosh viveu sob a sombra dos atos do pai até conhecer o chefe guerreiro Thrall, responsável pela renovação da Horda, que lhe explicou que, no fim, Grom deu a própria vida para quebrar a maldição demoníaca e libertar sua raça da influência das forças negras.
Reanimado, Garrosh juntou-se a Thrall em Azeroth e rapidamente se tornou um herói da Horda, liderando uma ofensiva bem-sucedida contra o Lich Rei. Quando Asa da Morte rompeu o mundo, Thrall se viu obrigado abandonar o trono para impedir a destruição, deixando Garrosh em seu lugar. Em busca de mais recursos e novos territórios para seu povo, Grito Infernal deu início a violentos ataques contra a Aliança, devastando a cidade de Theramore e avançando em seguida sobre o continente de Pandária. Como chefe guerreiro, as controversas ações de Garrosh expuseram a Horda a um minucioso escrutínio, de fora e de dentro da facção. Com tantos questionamentos, o perigo de discórdia e retaliação torna-se uma ameaça maior que qualquer outra que a Horda já tenha enfrentado.
Reanimado, Garrosh juntou-se a Thrall em Azeroth e rapidamente se tornou um herói da Horda, liderando uma ofensiva bem-sucedida contra o Lich Rei. Quando Asa da Morte rompeu o mundo, Thrall se viu obrigado abandonar o trono para impedir a destruição, deixando Garrosh em seu lugar. Em busca de mais recursos e novos territórios para seu povo, Grito Infernal deu início a violentos ataques contra a Aliança, devastando a cidade de Theramore e avançando em seguida sobre o continente de Pandária. Como chefe guerreiro, as controversas ações de Garrosh expuseram a Horda a um minucioso escrutínio, de fora e de dentro da facção. Com tantos questionamentos, o perigo de discórdia e retaliação torna-se uma ameaça maior que qualquer outra que a Horda já tenha enfrentado.
Você me desaponta, Garrosh
Por mais que ele tentasse, a memória dessas palavras não sumiriam. Independente das vezes que ele ouvisse os orgulhosos gritos de “Bem Vindo, Overlord!” quando passava por Agmar’s Hammer, ou de quanto tempo ele ficasse nas ruínas de Wrath Gate fitando as chamas encantadas que ainda queimavam ali. Até mesmo os ataques de suas espadas contra feras ou Escórias que ousassem se opor à ele só davam uma breve pausa. Todo o calor dos espirros cortantes de sangue que iam contra seu rosto não poderiam silenciar aquela voz. No momento em que ele voltava para a estrada, cada palavra dita ecoava em sua cabeça a cada passo que seus enormes pés de lobo davam na neve.
Talvez tenha sido a contínua presença do Warchief em seu flanco que tenha causado a volta das palavras. Thrall havia decidido acompanhar Garrosh em sua volta de Dalaran para o Forte Warsong. Ele disse que queria ver o andamento deles em Northrend. Garrosh sentiu como se estivesse sendo analisado, mas sabia que isso também era uma oportunidade. A invasão da Horda em Northrend estava longe do trivial. Com certeza Thrall veria isso. Com certeza ele iria apreciar tudo que tinha sido conquistado neste fronte.
Garrosh cuspiu no capim de cima de seu lobo, Malak. O Lago Kum’uya estava atrás deles, ainda criava um reflexo no céu cinzento do amanhecer. Eles chegariam no Forte Warsong no meio da tarde, no crepúsculo se fossem devagar. Particularmente, ele tinha que confessar que estava ansioso para ver o olhar nos olhos de Thrall quando chegassem.
Infelizmente eles não poderiam admirar o forte apropriadamente quando aproximassem. Em um momento Garrosh percebeu que os nerubians haviam, novamente, invadido a Pedreira Mightstone. Ele fechou a cara. Não importava quão bem eles bloqueassem Azjol-Nerub, os insetos sempre achavam um novo caminho para oeste. Seus gritos misteriosos eram inconfundíveis, voavam longe em todas as direções no vento gelado da tundra.
“Avante! Ataquem!” ordenou Garrosh aos seus Kor’kron montados que os acompanhavam, esquecendo que de fato ele não era o comandante do grupo. Ele ordenou Malak à uma disparada deixando todos para trás antes de lembrar que o costume correto seria aguardar o comando de Thrall. Bem, costumes não ganham batalhas. Ações sim.
Mais sons de lutas ficavam perceptíveis enquanto se aproximavam dos guardas de batalha, o bruto bum da artilharia e o barulho típico de arma de metal acertando as carapaças dos nerubians. Garrosh preparou seus machados, seu coração acelerava rápido se antecipando. Ele alcançou a borda da pedreira, Malak nunca perdia uma corrida. Ele derrapou pela muralha, saltou pelos andaimes e com um berro se lançou no combate.
Os nerubians diante dele não haviam visto ele chegando. O primeiro alvo de Garrosh sofreu um corte profundo pelo tórax, e o segundo foi rachado por todo seu corpo. O guarda do Warsong com quem ele estava lutando olhou para cima, assustado, seu machado preparado acima de seu ombro. Garrosh sorriu.
“Hellscream!” o guerreiro gritou, saudando. Ele se virou para os outros ao seu redor. “O Overlord Hellscream voltou!”
Garrosh levantou um machado em resposta. “Lutem até que eles fujam!” ele rugiu à seus soldados. “Lembrem a esses vermes o que significa atacar a Horda! Lok-tar ogar!”
O grito de Garrosh injetou uma força renovada nos defensores, e eles fizeram um arrastão, um coro de “Lok’tar ogar!” saiu de seus lábios em resposta. Um enorme monstro parecido com um besouro estava dominando o fundo da pedreira, e Garrosh subiu em seu lobo para atacá-lo. Os lobos dos orcs são treinados para batalha tanto quanto seus montadores, e Malak mordeu profundamente o tarso do nerubian, desequilibrando ele enquanto Garrosh se desmontava. Por mais vantajoso que o combate montado possa ser, ele sempre se sentia melhor com os dois pés no chão.
O nerubian assobiou e lançou seus membros posteriores em seu pescoço. Garrosh bloqueou o ataque e com uma volta de seu machado mandou ao chão as extremidades cortadas do nerubian. O inseto deu um passo pra trás e Garrosh praticamente dançou em sua frente, balançando seus machados com uma graça congelante. O sangue cantou em suas veias, o calor da batalha queimou em seu peito. Nunca havia lhe ocorrido em considerar a ironia que era ele se sentir mais vivo quando estava mais perto da morte.
Garrosh atacou o tórax do monstro enquanto Malak atacava suas pernas, evitando que ele conseguisse se firmar no chão. Quando ele preparava outro ataque, um flash brilhou seguindo de um afiado “crack” e o odor ardido de carapaça queimada momentaneamente desorientou ele e anunciou a entrada do Warchief Thrall na batalha. O Nerubian foi derrotado e não tinha mais para onde ir. Garrosh sentiu um ímpeto de certeza enquanto levantava o machado e desferia o ataque final, dividindo a enorme cabeça do inseto em duas.
Com isso Garrosh sabia que a batalha estava ganha. Só restava às forças do Warsong à dispacharem os nerubians restantes que ainda atacavam pela pedreira. Vendo a luta dos guardas, Thrall levantou o Doomhammer em sua frente e murmurou algo que Garrosh não conseguiu escutar. Ao comando do Warchief, o vento repentinamente soltou um uivo de fúria e o ar estalou, fazendo até os cabelos do pescoço de Garrosh se arrepiarem. Thrall urrou e invocou um raio cegante em cima do último grupo de resistência enquanto seus soldados pulavam para fora do caminho. A explosão fez chover pequenos pedaços de carapaças nas pedras.
Garrosh chamou Malak e passou a mão pelo seus pelos, levantando a tropa, satisfeito com o sucesso deles. A luta havia sido rápida, mas satisfatória. Foi uma pena a Horda ter construído sua fortaleza no topo de uma parte do reino nerubiano, mas os ataques estavam cada vez menos frequente, e ele estava confiante de que com o tempo eles cessariam de uma vez por toda. Seus soldados ficavam mais eficientes com cada oportunidade de se defender, e as linhas haviam segurado. As linhas continuariam a segurar.
Ele subiu pela rampa da frente do Forte Warsong aonde o Overlord Razgor esperava, uma gosma grossa ainda pingava de sua espada.
“Chegou bem na hora”, disse ele, secando o suor de seu rosto. Garrosh gargalhou.
“Não perderia a chance de acabar com alguns malditos insetos”, ele respondeu. Razgor sorriu.
“O Warchief Thrall veio me acompanhando de Dalaran”, Garrosh continuou, “para inspecionar nossas estruturas em Northrend.” Enquanto ele falava, Thrall passava pelo caminho logo atrás de Garrosh.
Os olhos de Razgor se arregalaram e ele cumprimentou com a cabeça. Ele se virou para os soldados ao redor dele.
“Dêem as boas vindas ao Overlord Hellscream!” ele anunciou. Os soldados gritaram e brandiram suas espadas.
“E dêem as boas vindas”, continuou ele, falando ainda mais alto, “ao nosso warchief! Thrall, filho de Durotan!” O grupo se virou quase que ao mesmo tempo e saudaram, cada olho fitando humildemente Thrall. Razgor avançou e também o saudou.
“Estamos honrados com sua presença no Forte Warsong, Warchief”, disse ele. Os olhos de Thrall varreram as altas muralhas de pedra do forte, passando pelos parapeitos de aço, descendo pelo fosso da pedreira onde eles haviam acabado de lutar e finalmente parando sobre Garrosh, que olhou de volta para ele.
“Isso me lembra Orgrimmar”, disse Thrall, “Impressionante.”
“E ainda tem mais para dentro”, Garrosh respondeu. “Iremos te mostrar.”
“Estou certo de que não ficarei desapontado”, Thrall respondeu. Garrosh rangeu seus dentes ao ouvir estas palavras.
A primeira vez que ele havia visto, a visão dela quase o matou na trilha. Não fazia muito tempo que eles haviam deixado o Razorwind Canyon para trás, saindo de entre suas grandes muralhas de pedras de areia, no sol imperdoável de Durotar. Diante deles, o chão vermelho corria infinitamente e o horizonte sumia em uma luz trêmula do calor que distorcia à distância. Isso era muito diferente dos campos verdes de Nagrand.
“Ali! Consegue ver?” Thrall interrompeu sua montaria e apontou em direção ao horizonte ao norte. Garrosh parou perto dele e forçou a vista. Atrás deles, sua comitiva vinha mais lenta.
Na distância ele viu um portão alto, uma muralha de pilões de madeira afiada, torres com telhados vermelhos… Não, seus olhos estavam lhe pregando uma peça. Ele ficou surpreso. Orgrimmar não poderia ser tão grande. Ele voltou seus olhos para ver Thrall que o observava atentamente, um sorriso arreganhou em sua face. Claramente ele esperava ansioso pela reação de Garrosh. Garrosh sentiu sua bocheca esquentar. Garadar poderia não ser tão imponente, mas ele era o chefe. Ele era filho de seu pai.
“Impressionante”, ele grunhiu. “Se for tão grande quanto parece.”
Thrall riu. “Espere pra ver”, ele disse, sorrindo.
Os portões não eram só altos. Eram enormes. Os guardas saudaram elaboradamente quando passaram, reconhecendo o warchief. Garrosh focou seus olhos mortos a frente e arqueou seus ombros. De repente sentiu sua gargante seca. Era o pó, é claro.
Thrall havia enchido sua cabeça com imagens da cidade durante as semanas de viagem. Garrosh acreditava que sabia bem o que esperar. Ele estava errado. Nada, nem toda conversa do mundo, poderia ter preparado ele para o que ele via. Construções apareciam em sua frente com dois e até três andares de altura, suas frentes desapareciam em ruelas sinuosas sombreadas por árvores e pedras pendentes. Se uma cidade orc com a metade do tamanho já tivesse existido em Draenor, ela já teria sumido ou sido abandonada a muito tempo. Orgrimmar, no entanto, esbanjava vida. No quarteirão havia dezenas e dezenas de orcs. Mais orcs do que ele já havia visto em vários anos, mais do que ele imaginava que existiam. Foi uma visão para a qual ele nunca poderia ter se preparado.
Quando Garrosh era somente uma criança, os clãs haviam se unido para formar a Horda e gastar meses em uma preparação calorosa para o que seria conhecida como Primeira Guerra. Anos mais tardes, após a Segunda Guerra, a Aliança havia virado e invadiu a terra natal dos humanos, e Garrosh ansiava para se unir ao exército da Horda e lutar junto de seu pai. Mas sua chance veio e foi, e no lugar ele ficou confiando em quarentena em Garadar por causa da varíola vermelha, mal podendo andar, queimando em frebe de sua doença e de vergonha por causa de sua fraqueza. Seu próprio pai havia ido para Azeroth sem muito mais do que um olhar pra trás, e para nunca mais voltar para Garadar ou para seu filho. E ele, Garrosh Hellscream, herdeiro do clã Warsong, não tinha a força para ajudar seu povo. A Horda o havia rejeitado. Ele pode ter sido o Mag’har-não-corrompido-mas ele também não era querido.
A Horda acabou falhando. Os humanos haviam destruído o Dark Portal e prenderam os orcs conquistados e a imensa guerra teve fim. Os Mag’har estavam sozinhos. Alguns orcs da Horda ainda restavam, com certeza, mas eles evitavam Garadar, desconfiados e desdenhando seus moradores doentes. A epidemia havia seguido seu curso, mas a superstições são difíceis de acabar. Os orcs viraram um povo recolhido, fragmentados e sempre lutando no limite da sobrevivência. Com o tempo ficou claro que a Horda havia sido devastada, e seus inimigos havia pressionado até que a esperança fosse reduzida ao pó e a sobrevivência fosse vista como uma tolice impossível.
Aqui em Orgrimmar, a Horda não havia apenas sobrevivido; ela prosperou. O quarteirão estava abarrotado de orcs. Mercantes anunciavam seus produtos, conquistando seus consumidores em potencial com descontos. Crianças corriam por entre as barracas, fingindo uma batalha contra inimigos invisíveis. Grunts patrulhavam as ruas. Garrosh mal acreditava na cena diante dele.
Próximo a ele, Thrall ria. Garrosh olhou pra ele.
“É uma visão”, disse Thrall.
Garrosh concordou, mas não falou nada.
“Você verá tudo, Garrosh”, Thrall continuou. Thrall sorriu largamente. “Bem Vindo à Orgrimmar!”
Em Warsong Hold eles passaram as rampas, subiram para o topo das torres e fizeram uma excursão pelas forjas e pelos curtumes. Quando eles voltaram ao grande salão, Thrall gastou o que pareceu eras examinando o enorme mapa tático de Northrend pregado ao longo do chão. Meticulosamente gravado e costurado em couro, ele detalhava tudo que já havia sido explorado e os frontes em Northred, tanto de aliados quanto de inimigos. Garrosh notou especialmente como Thrall fixou na península norte de Storm Peaks, onde ficava Ulduar. A mente de Garrosh rapidamente voltou para seu breve encontro com o Kirin Tor em Dalaran. Você desaponta. Ele cerrou suas mãos até que seus dedos queimaram.
“Onde”, disse Thrall repentinamente, “está a frente de Icecrown?” Ele estudou o mapa; só havia uma marca no vale.
“No chão no sudeste”, respondeu Garrosh, “sendo vigiada pela Argent Crusade”. Ele apontou para outra porção do mapa, logo a norte da base da Crusade.
“O Orgrim’s Hammer foi enviado aqui. Iremos fazer nosso ataque nas rampas de Icecrown pelo ar.” Ele olhou para Thrall. “Nossos batedores dizem que a Aliança planeja o mesmo.”
Antes que Thrall pudesse responder, outra voz correu pelo salão.
“O ataque já começou.” Thrall e Garrosh se viraram para o falante.
O High Overlord Varok Saurfang segurava uma carta selada em sua mão enquanto caminhava para onde eles estavam.
“Esse informativo acabou de chegar esta tarde”, ele continou, “Ele têm o selo pessoal de Korm Blackscar.”
“Throm-ka, Varok”, disse Thrall.
“Throm-ka, Warchief”, ele respondeu.
“Estamos vindo de Dalaran, vindo por Agmar’s Hammer”, Thrall lhe contou. Ele parou um momento. “Nós fizemos uma homenagem no Wrath Gate.”
Varok permaneceu em silêncio.
“Sinto muito pelo Dranosh”, disse Thrall.
“Meu filho morreu uma morte honrosa, defendendo seu povo”, Varok respondeu, um pouco rápido. “Seu espírito deve ser vingado quando derrotarmos o Lich King.”
Thrall concordou.
“Aqui está o relatório de Blackscar”, Varok continuou, voltando sua atenção à carta. “Vejamos que notícias temos do fronte.”
Garrosh amou Orgrimmar. Amou andar pelas ruas; amou visitar os mercados; amou os estábulos, os ringues de treinamento, os ferreiros e as lojas. O que ele mais gostou acima de tudo, foi as bandeiras que balançavam com o vento no topo de postes ao redor da cidade: as bandeiras vermelho e preto da Horda. Debaixo dessas bandeiras, ele percebeu ao que ele pertencia. Ele serviu a Horda, assim como seu pai antes dele.
Porém, ele era muito sozinho, mesmo sendo cercado por seu povo. A todo lugar que ia, as pessoas o encaravam. A notícia correu rápido, o filho de Grom Hellscream estava vivo e estava em Orgrimmar, e a princípio ele achava que esse era o motivo. Mas um dia ele escutou uma jovem criança falando alto com sua mãe.
“Olha lá! Ele é tão estranho!”
“Xiu! Fica queto!”
“Mas a pele dele! Não é verde como a nossa! Que orc não têm a pele verde?”
Garrosh se virou pra criança que tinha falado. Ela ainda o encarava, com os olhos cerrados, chupando seu dedo que estava no canto da boca. Garrosh a encarou devolta, e rapidamente olhou para os olhos da mãe. Ela olhou em outra direção e pegou no braço do filho, levando ele rapidamente. Bem de vagar, Garrosh deslizou seus olhos pelo caminho, encarando silenciosamente cada um que havia escutado – e a rua estava bem cheia – esperando que alguém falasse algo. Não, minha pele não é verde; é marrom, dizia seus olhos. Eu sou um Mag’har. Quando ele estava satisfeito por ter intimidado adequadamente todos os observadores, ele se virou e voltou para seu caminho. Ele havia andado só um pouco quando uma mão clara em seu braço o parou.
Garrosh se virou depressa, surpreso.
“Me perdoe, jovem, mas eu posso explicar.”
Quem falava era um velho orc, seu cabelo longo já estava grizalho mas ainda trançava em um nó. As várias marcas em seu rosto e braços deixavam claro que ele era um guerreiro experiente. Garrosh olhou para ele.
“O que tem a dizer, velho?”
“Aquela criança disse a verdade, mas ele não entende isso.” O velho orc sacudiu a cabeça.
Garrosh desdenhou. “Não estou interessado em sua explicação”, disse, novamente se virando para ir embora.
“Eu lutei com seu pai, Hellscream”, disse o guerreiro. Garrosh parou. “Eu segui ele desde o saque de Shattrath até as florestas de Ashenvale. Eu bebi o sangue de Mannoroth junto com ele, e senti a maldição se esvair após o sacrifício dele.”
“Você nunca saberá o que significa, para aqueles como eu, estar vendo você. Quando a maldição se foi, estávamos livres para lembrar o que abandonamos e o que destruímos. Pensamos que não restava nada de nosso povo. Vendo você…” Ele parou e olho Garrosh de cima embaixo. “Sabendo que nosso passado não foi perdido por completo… Que há esperança para nosso futuro.”
“Grom foi um grande guerreiro. Segui ele até o fim de Draenor e além. Agora eu já não estou mais no campo de batalha. Mas se estivesse, seguiria você também.”
Garrosh não poderia estar se sentindo mais perdido. Ele encarou o velho guerreiro, não conseguindo falar. Ele sabia que Thrall era um companheiro próximo de seu pai, Thrall já havia falado muito de Grom. Mas Thrall não conheceu Grom por um longo período e já fazia muito tempo que Garrosh queria escutar algo assim, mesmo que fosse orgulhoso demais para admitir. Ele queria saber as histórias – as realmente boas. Já era suficiente pra ele ter crescido escutando as ruins.
“Você deixará seu povo orgulhoso, Hellscream”, disse o velho orc. E finalmente ele se virou e foi embora, deixando Garrosh sozinho na rua com vários pensamentos que só serviam para irritá-lo. Agora ele não conseguia mais se lembrar o que tinha que fazer. Com uma bufada ele escolheu uma direção e começou a andar. Era melhor do que ficar parado.
Seus pés o carregaram para a parte mais leste da cidade, o Valley of Honor, para o grande poço aonde a água fresca era coletada. Ele sentou em uma pedra na beira da água e observou a queda que ia de cara com uma pedra e se espalhava no pequeno lago embaixo. O constante fluxo e a sombra da encosta refrescavam o ar e davam uma pausa bem vinda do calor do deserto. Era uma sensação boa sentir o borrifo de água contra sua pele.
Sua pele. Ele olhou para seus braços e viu a rica cor marrom contra o vermelho manchado da pedra. Ele franziu. Será que os orcs da Horda de Thrall realmente não se lembravam de onde vinham? Havia realmente tal significado em sua aparência?
Um borrifo perto dele fez ele olhar para cima. Uma jovem orc estava puxando uma rede de pesca. Ele se distraiu assistindo o trabalho dela. Sua pela, é claro, era verde. Ela se virou para caminhar perto da beira e os olhos de Garrosh se encontraram com o único olho dela. Um pano cobria o local onde deveria estar o olho direito dela. Para surpresa dele, ela gritou com ele ferozmente.
“Tá achando engraçado, né?”, ela disse, sua voz emanava desprezo enquanto sua rede pingava água, “Ficar sentando aí me assistindo brigar com alguns peixe. Espero que esteja gostando.”
Garrosh bufou pra ele. “Não estou nem aí para o que você faz. Pescar ou não, faça como quiser. Compre no mercado se não gosta de trabalhar.”
“Comprar?” Ela levantou sua cabeça e gargalhou. “Você vai pagar? É fácil dizer, Hellscream! Sim, sei quem você é.”
Ele riu devolta à ela. “É claro que sabe. Sou o único Mag’har de Orgrimmar. Se não soubesse, também estaria sem o outro olho.”
“Arrogante assim como seu pai.” Ela começou a guardar a rede e as coisas em um saco de pano. “Você é um tolo, assim como ele.”
Com as palavras dela, o sangue ferveu nas veias de Garrosh. Ele pulou da pedra onde estava sentando para onde ela estava. “Meu pai sacrificou a vida dele por você e pelo resto do povo de Thrall. É graças à ele que você está livre da maldição do sangue!”
“É graças a ele que houve uma maldição, em primeiro lugar!” Ela retrucou. “E eu não sou do povo do warchief! Eu sou filha da Horda assim como meus pais antes de mim, mas meus deveres não se extende além disso!”
Garrosh se enfureceu com as palavras dela. “Você diz que não tem dever? Você diz que não é do povo do warchief? Como você fica nessa cidade? Onde mais podemos ser livres para vivermos em nosso próprio espaço sem temer uma aniquilação? Onde mais temos tudo que precisamos?”
“Ha!”, ela rosnou. “Deixe te perguntar uma coisa Hellscream: você realmente viu a cidade? Sim, o mercado é abundante. Mas de onde ele vem? Onde estão as fazendas em Durotar?”
Garrosh contraiu seus olhos. Ele sabia que haviam algumas nos arredores de Orgrimmar, mas a maioria era para criação de porcos e com certeza não plantavam grãos ou frutas.
“Exatamente!”, ela continuou. “Não existem. Tudo que temos vêm de muito longe.” Ela olhou pra bolsa onde tinha guardado a rede. “Ou do que podemos tirar do deserto. Assim como nossa segurança!” Ela riu. “A Aliança invade nossas terras todos os dias. De qualquer forma você pode chamar essa terra da pedra vermelha! Para o norte está a Floresta de Ashenvale, cheia de tudo que poderíamos precisar, mas estamos lá? Não! Ao invés disso vivemos em um deserto! Então diga me, Hellscream, porque nosso bom warchief, que ama tanto seu povo, nos condena à essas terras perdidas enquanto bastaria atravessar o rio para termos muito mais fartura? Ou ele é um corrupto ou um incompetente, ou os dois, e você parece se encaixar bem nisso!”
Essa foi a gota d’agua.
“Traídora!” Garrosh rugiu. Ele deu um passo ameaçador em sua direção. “Como ousa insultar o warchief? Cale sua boca, traídora, ou eu a calarei pra você!”
“Vé em frente…”, ela começou, apertando suas mãos em punhos, se protegendo contra um possível golpe.
“Não! Krenna!”, uma nova voz gritou. Garrosh olhou, outra orc estava correndo em sua direção.
“Krenna, segure sua língua!”, ela continuou, ficando no meio dos dois.
A orc com o tapa olho – Krenna – olhou para a outra que falava com ela, então bufou e olhou para baixo.
“Vou indo então, Gorgonna.” Ela levantou sua bolsa até os ombros e saiu sem falar nem mais uma palavra para nenhum deles. Garrosh começou a seguir ela, mas Gorgonna imediatamente virou e segurou seu braço.
“Por favor, pare”, disse ela. “Sinto muito pela minha irmão. Ela não queria dizer o que disse!”
“É melhor que não.” Disse Garrosh. Gorgonna se aliviou e soltou seu braço.
“Ele e eu passamos nossa infância nos campos de concetração após a Segunda Guerra. Ela é super grata pelo warchief ter nos libertado, mas…”, ela hesitou, então continuou bem baixo, “Ela acha que ele não faz o suficiente.”
“E você?”, perguntou Garrosh. Gorgonna olhou para o caminho que Krenna havia ido e ficou calada por um momento.
“Nossos pais lutaram nas guerras”, ela disse bem devagar. “Eles beberam o sangue de Mannoroth assim como seu pai, e eles foram parte dessa maldição. Eles cometeram atos terríveis no nome da Horda. Eles atacaram e mataram inocentes.”
Garrosh eriçou. Seu pai não era um assassino. “Eles fizeram o que acreditavam ser necessário! Você suja o nome de seu próprio sangue?”
“Eu honro a memória de meus pais – não se confunda!” ela chorou. “Mas o que eles acreditavam estava errado. O que todos os orcs acreditavam estava errado. Precisamos sofrer por causa disso. O warchief entende isso, eu também. Mas minha irmã não.”
“Isso é ridículo. Você nunca nem lutou nas guerras! Você disse que era criança nos campos de concentração! Isso já não é punição suficiente? Porque você deveria sofrer mais?”
“Eu carrego a mesma marca de todos”, disse ela, levantando suas mãos verdes, assim como a irmã dela, assim como todos os orcs de Orgrimmar, exceto ele. “Eu colho o que eles semearam. Não há um pagamento sendo devido?”
“E quem irá definir o preço?” perguntou Garrosh. A atitude dela o irritou. Será que ela não tinha orgulho nenhum? “Que poderia se quer ter o direito de fazer tal cobrança?”
“Eu pagarei o que o warchief pedir”, ela respondeu.
“Thrall nunca seria irracional assim. Não devemos nada a ninguém.”
Gorgonna o observou por um momento, então inesperadamente ela gargalhou igual sua irmã teria. “É claro que não”, disse ela. “Você não deve nada, Mag’har. Mas nós não somos você.”
“Isso é uma afronta!”, disse Thrall. Ele estava inquieto em sua sala. “Não acredito que o sky-reavers iria perdoar tal coisa.”Varok sentou na mesa, as páginas do relatório de Blackscar estava em sua frente. Pela sala, Garrosh pegou alguns símbolos de madeira pintados de azul representando a Aliança, alguns pintados de vermelho para a Horda e alguns pintados com uma caveira para a Scourge. Ele colocou todos eles no mapa de Icecrown a sul de Mord’rethar, o Portão da Morte de Icecrown Citadel. Com um pedaço de carvão ele desenhou um grande X em uma pele. O relatório tinhado dado um nome à essa região: o Broken Front.A Aliança havia tentado conquistar Mord’rethar, mas uma patrulha da Horda havia visto o regimento e com sucesso evitou o ataque… atacando por trás. Presa entre a Scourge à sua frente e a Horda em suas costas, as forças da Aliança pereceram… mas as da Horda também. A Scourge também sofreu percas, mas o portão permaneceu sobre controle do Lich King.
As forças de Blackscar deliberadamente esperaram até que os soldados da Aliança estivessem em combate, então matou todos eles. O rosto de Thrall se contorceu enquanto lia as palavras do sky-reaver: Apesar de ter lhes custado a vida, a bravura deles evitou que a Aliança capturasse um ponto estratégico. Tal coragem é um orgulho dos verdadeiros soldados da Horda!
“‘Bravura.’ ‘Coragem’, orgulho da Horda.” Thrall quase cuspiu essas palavras. “E a Scourge ainda têm o Death Gate. É isso o que ele quer? É isso o que é considerado glória entre nós?”
Garrosh permaneceu estranhamente calado, olhado fixamente para os símbolos de madeira no mapa. Ele quase que podia sentir os olhos de Varok vigiando suas costas, e Thrall também iria cair em cima dele. Era bom que a Aliança não tivesse Mord’rethar; disso Garrosh estava certo. Mas ele ainda continuava a observar as pequenas marcas de madeira, e mais tarde à noite, muito depois dos outros comandantes terem se retirado para dormir, Garrosh releu a carta de Blackscar.
Tal coragem é um orgulho dos verdadeiros soldados da Horda!
Ele invocou um mensageiro. “Envie para o Sky-Reaver Korm Blackscar no Orgrim’s Hammer”, disse ele, entregando uma carta. “Ele deve retornar ao Warsong Hold imediatamente. Diga à ele que o Overlord Hellscream quer vê-lo.”
Garrosh pensou que o que Gorgonna havia dito no lago era um absurdo. Seu próprio pai havia sido o primeiro a beber o sangue de Mannoroth, ele sabia disso – por meio de seus ancestrais, e como ele sabia disso; ninguém iria deixar ele esquecer disso, mas Grom havia concertado tudo e deu um fim à maldição para todos eles ao custo de sua vida. Seu débito foi pago com sanue. O que mais alguém poderia querer?
Foram as palavras de Krenna que realmente incomodaram com ele.
Incomodou ele quando os elfos da noite fizeram uma armadilha nas caravanas de lenha de Ashenvale.
Incomodou ele quando soldados de Tiragarde Keep roubaram Razor Hill.
Incomodou ele quando os anões de Bael Modan e os humanos de Northwatch Hold se rejeitaram a sair do território da Horda que eles usurparam.
Nenhuma dessas coisas estavam acontecendo pela primeira vez.
Certamente houve retaliação, e muitos dos postos avançados agiram em seu direito de própria defesa. Garrosh ansiava por viajar e emprestar à eles sua ajuda. Ele iria contentemente lutar para protegê-los. Ele iria contentemente ensinar à Aliança a deixá-los quetos, a deixá-los usar o que precisavam para sobreviver. Diferente de Garadar, Orgrimmar tinha poder e número suficiente para se defender.
Bem, ela teria. Se as forças orcs não estivessem em Tarren Mill, ajudando os Forsaken – fossem somente forças orcs em Tarren Mill, uma raça apropriadamante nomeada, na opinião de Garrosh. Garrosh não conseguia compreender o que Thrall poderia ter visto neles.
E ainda mais orcs haviam sido enviados à Quel’Thalas. As próprias interações de Garrosh com os elfos em Orgrimmar deixou ele imaginando porque a Horda deveria se preocupava com todos eles. O respeito deles parecia bem pouco.
E os trolls. Garrosh mal podia parar pra pensar neles. Recruta após recruta era enviado para ajudar eles a retomar suas terras ao sul, e de alguma forma todas as tentativas ainda falhavam. Aparentemente isso já vem acontecendo há anos. Que tipo de povo não consegue lidar com um simples witch doctor? Será que vai realmente precisar de uma invasão de escala total com as mais diversas tropas da Horda para retomar algumas meras ilhas?
Quanto mais Garrosh pensava em tudo isso, mais a raiva ia tomando ele. Com cada dia que se passava, o que Krenna havia dito ia se aprofundando em sua consciência. A impaciência de Garrosh cresceu.
Então os rumores começaram. Em Ratchet, eles já ouviam falar, através de Booty Bay, que algo estava errado com os carregamentos de grãos. As pessoas começaram a sussurrar. Os poucos Forsakens que fizeram de Orgrimmar sua casa alertou seus líderes: Está acontecendo denovo.
E eles não estavam errados.
Esses foram tempos como ninguém mais havia visto.Amigos virando inimigos; vida virando morte que nem era morte de verdade. Não poderia haver hesitação nem piedade. Isso era a praga. Isso era feitiçaria de um doente que só alguém como Gul’dan poderia ter criado, e ele já estava morto fazia muito tempo. Outra pessoa estava fazendo essas atrocidades, Garrosh descobriu: um ex príncipe da Aliança. Um que havia sido muito ingênuo, muito fraco e muito estúpido para evitar que sua própria manipulação se tornasse do mau. Agora ele fazia chover morte em cima deles.
Os machados de Garrosh levantaram e desceram várias e várias vezes na defesa de Orgrimmar. Eles iria proteger seu povo.
Então, abruptamente, a ameaça pareceu ter acabado. A praga parou de se espalhar. Os últimos infectados foram despachados. Mas esse não era o fim, Garrosh sabia. Estava longe disso. O único recurso contra tal inimigo era a guerra, bruta e implacável. Ele ansiava por isso. Ele iria liderar seus exércitos para levar a justiça da Horda. Ele só precisava esperar pelo comando de Thrall.
Surgiram relatórios de todo o mundo. A praga nos devastou e as citadelas flutuantes enviaram seus exércitos para profanar nossas terras. E você ainda espera, Warchief. Você convocou um conselho quando deveria convocar uma guerra. Até esses… seus… aliados… que você permitiu na Horda se juntaram aqui e o único anúncio que você tem para nós é para esperar. Estamos esperando, Thrall. Você está hesitando.
“Mak’Gora!”
O desafio foi feito através de sua frustação e raiva. Thrall não iria agir. Ele queria explorar; ele queria consultar com a Aliança – com uma mulher do próprio povo que criou o príncipe traidor. Garrosh não deixaria isso acontecer.
“Você me desafia, garoto?” Thrall respondeu em uma voz mortalmente calma. “Eu não tenho tempo para isso…”. E deus as costas.
“Então você rejeita? O filho de Durotan é um covarde?”
Isso chamou a atenção de Thrall. Ele rodopiou ao redor, agradando Garrosh que viu a fúria em seus olhos.
“Para dentro!” Thrall rugiu, apontando para o Ring of Valor. Garrosh poderia ter cantado.
Vou fazer seu joguinho.
Relembrando agora Garrosh sabia que foi muita sorte o duelo ter sido interrompido, apesar dele preferir morrer do que admitir isso. Não importava. Thrall havia se tocado e finalmente enviou o comando de marcha para Northrend, um chamado que Garrosh aceitou com fervor.
Agora ele estava ali parado no salão frontal da citadela que ele construíu, levantada sobre as terras que ele conquistou, esperando a chegada de Korm Blackscar. Thrall ainda estava em Northrend. Garrosh estava certo de que Thrall queria ver como Garrosh iria lidar com o sky-reaver.
Será que você ficará desapontado denovo, Warchief?
Blackscar rompeu porta à dentro, olhando ao redor surpreso com sua audiência. Ignorando a presença do warchief, ele foi até Garrosh. “Você solicitou meu retorno à Warsong Hold, Overlord”, disse ele. “Honrei seu pedido.”
Garrosh levantou a carta sobre o Broken Front. “Aqui você detalhou como uma de suas patrulhas evitou que a Aliança tomasse um ponto estratégico contra a Scourge.”
Blackscar abriu um grande sorriso. “Isso foi uma peça do trabalho deles! Não é glorioso?”
Garrosh olhou pro relatório e então para Blackscar. “Não.”
As sombrancelhas de Blackscar se levantaram em surpresa.
“Uma emboscada em tropas abertas esperano lutar é uma coisa. Atacar por trás um regimento que já esteja em combate? Qual seria o próximo passo?” Perguntou Garrosh. “Você se infiltraria no campo deles e envenenaria suas águas? Você escravizaria um dos comandantes deles com mágica e forçaria ele a assassinar a própria tropa enquanto dormiam? Você faria chover uma praga sobre seus inimigos, igual os Forsakens? Você lutaria como eles lutam?”
Blackscar gaguejou, perdendo as palavras.
“Não existe combate senão o combate honroso, Blackscar.” Garrosh segurou o relatório na frende da cara dele e amassou com sua mão. “Isso? Isso é um trabalho covarde! Eu não terei covardes no meu exército!”
“Overlord”, Blackscar gaguejou, “se eu trouxe vergonha para nossa causa, deixarei meu posto.”
“Você admite que foi um covarde? Novamente: Não terei covardes no meu exército. Prove que você não é um, Blackscar. Volte para o Orgrim’s Hammers e lidere seus soldados de uma maneira digna da Horda. Se falhar, eu não irei atrás do seu rebaixamento, mas de sua cabeça em uma lança. Agora suma da minha frente.”
Garrosh não esperava ver Blackscar sair. Garrosh caminhou pelo salão e subiu as escadas até o topo de um baluarte do forte. Para cima e para baixo ele caminhou, com as sombrancelhas cerradas. Ele examinou o estado das defesas e fez uma nota do que iria precisar ser corrigido e quem era o responsável por aquela falha.
Ele se virou para caminhar na muralha novamente e viu que Thrall estava em seu caminho. “Sim, Warchief?”
Thrall olhou para ele pensativo. Garrosh não gostou do olhar em seu rosto.
“Acho que você cuidou bem do Blackscar”, disse Thrall. “As ações de seus soldados no Broken Front foram inconscientes, mas ele ainda é um comandante forte. Nossos avanços em Icecrown iriam sofrer com sua perca. Você fez a escolha certa.”
Garrosh forçou a passagem por ele. “Ele só terá mais uma chance. Não terei trapaceiros e enganadores em meu exército”, ele respondeu.
“De fato,” Thrall falou com ele ironicamente. “Lembro de algo que alguém me disse no topo do Violet Tower há algumas semanas atrás. ‘Um verdadeiro warchief nunca faria parceria com covardes.’”
Garrosh parou sua caminhada e lentamente se virou. Ouvindo Thrall falando sua própria frase para ele. “Eu não sou o warchief”, ele respondeu após um momento.
Thrall riu. “Eu sei. É verdade. Mas serve muito bem para um overlord.” Thrall olhou além, vendo o forte, o mar cinza para o oeste e a vasta planície de tundra que cercava eles. “Isso não é uma conquista pequena, Garrosh. Nossos fortes estão seguros e o fronte em Icecrown continua adiante. Você luta junto de seus soldados com coragem e eles te respeitam. Você deve se orgulhar.”
Garrosh estreitou os olhos.
“Eu não me arrependo da minha escolha do comandante para essa ofensiva.” Disse Thrall.
Garrosh piscou surpreso, não sabendo o que falar. Essa reação era inesperada. Ele passou de um pé pro outro, desconfortável com a sensação do elogio de Thrall, mas não deixando de gostar dela. “Eu sirvo à Horda”, finalmente disse. “Irei fazer o que é melhor pra ela.”
“Disso eu não duvido”, respondeu Thrall. “E você faz bem, estou orgulhoso em dizer.”
Garrosh passou novamente e olhou por cima do ombro de Thrall indo em direção à parede atrás dele. A bandeira vermelha da Horda balançando com uma leve brisa.
“No entanto”, Thrall continuou, “Acredito que sua atitude em relação à Aliança, está errada. Não podemos ganhar essa guerra sem eles.”
Garrosh voltou seus olhos devolta para Thrall. “Meu dever é para a Horda”, ele respondeu, “E somente para ela.”
“Talvez, Garrosh”, disse Thrall, “mas derramar sangue não é a única maneira de cumprir esse dever.”
“Bah!”
Garrosh se virou e colocou as duas mãos contra o parapeito. Atrás dele ele podia ouvir os passos de Thrall indo pela escada. Garrosh olhou para o céu nublado. Thrall não entendia que a Aliança nunca deixaria eles em paz. Iriam pressionar todos os lados – assim como os inimigos dos orcs de Garadar – até que a Horda se fosse. O único ataque era lutar, fazer os humanos sucumbirem antes. A segurança dos orcs vinha acima de todo o resto. Não haveria negociação até que a Aliança entendesse aquilo. Garrosh não pararia. Seu povo nunca mais reduziria, não denovo. A Horda nunca iria cair.
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