“Nunca tome a mão de um homem, filho…”, disse o Rei Archibald Greymane, seu forte corpo agora como uma silhueta trêmula contra a luz minguante do crepúsculo. “É sempre melhor se sustentar por sua própria conta. Isso é o que separa os grandes dos fracos.”
Seu filho, Genn, com todos seus sete anos de idade, colocou suas mãos para trás. Ele estava sentado com as pernas cruzadas nas pedras frias dos fortes recém construídos. As plataformas eram testamentos impressionantes dos poderes da nação, mas para Genn, talvez nem de perto tão impressionante quanto o homem que estava em pé na sua frente.
“Você acha que tudo isso foi construído pedindo a outros reinos que nos sustentasse?”
As torres industriais da Cidade de Gilneas se espalhavam embaixo. Com certeza era uma vista magnífica: grandes telhados de azulejo firmados sobre ruas de pedra de carvão; lojas, fábricas e ondas de fumaça; essa sim era uma cidade com olhar para o futuro, com olhar para o potencial de seu povo.
“Quando eu era um jovem príncipe, como você é hoje, meu pai nem sonhava com isso! Mas eu sim, e eu guardei isso comigo e olhe para nós agora… Tudo isso feito sem tomar as mãos daqueles em Stormwind ou pedir ajuda daqueles de Lordaeron. E com certeza nós não nos rebaixamos à arrogância das orelhas-grandes daqueles semi-humanos de Quel’Thalas.”
Genn já havia escutado a história de Gilneas na época antes de Archibald ser coroado. Com certeza era uma nação que não estava nem perto do poder que iria ter.
“Agora levante-se, garoto. Levante-se e não me peça para te ajudar denovo. Porque tudo isso será seu, e quando for, você precisará estar pronto.”
“É sua Pai. Gilneas sempre será sua.”
Archibald sorriu, seu tom suavizou. “Não, filho. Princípes crescem e viram rei, assim como o dia vira noite. Essa é a forma das coisas… Venha agora, estou sentindo um frio no ar. Devemos festar. Acredito que hoje teremos javali assado.”
Genn rapidamente se levantou. Um suculento javali, feito por alguém que Genn acreditava ser o melhor chefe em toda Azeroth, era sua coisa favorita depois de duas luas.
“Acha que teremos molho de maçã com o jantar, Pai?”
“Se quiser molho de maça, garoto, você pode ter. Assim também é o modo dos reis e seus progênitos.”
Com isso, os dois desceram a plataforma. Os últimos brilhos do dia atravessaram o céu ferido.
O navio de transporte dos elfos da noite atracou nos mares cada vez mais bravos. Com cada balançar enjoativo, as antigas placas de madeira que formam o imponente casco do navio há vários milênios, deixavam escapar um rangido estridente.
Lá dentro, em uma cabine mofada, o Rei Genn Greymane abriu seus olhos. A memória de sua juventude ainda estava o assombrando, ainda caçando ele por razões que ele não entendia. E não era somente uma: várias de suas memórias passavam por sua mente nesses dias, afogando seus pensamentos de sonhos como se tivesse tentando passar alguma mensagem que ele não conseguia captar. A memória era misteriosa daquela forma, sua própria espécie de mágica, talvez mais estranha e poderosa do que os poderosos poderes arcanos que os magos de Dalaran eram tão adeptos em usar.
Ele começou a se levantar, mas uma dor o forçou a se voltar para a cama. Seu corpo sofria da recente batalha. A batalha por seu reino, a batalha que ele tinha perdido.
Ele respirou com desconforto e fechou seus olhos. As imagens voltaram de uma vez e abruptamente. Uma taça de cristal tinindo por um chão de pedra; bandeiras de Gilneas ostentadas orgulhosamente de uma muralha; seu filho, agora morto, Liam, sangrando pela boca e embalado nos braços de Genn.
“Deixe-me ajudá-lo, Lorde Greymane. Você passou por muitas coisas nesses dias problemáticos.”
O olhou de Genn se abriu. Diante dele estava a mão arroxeada de um elfo da noite. As palavras de Talar Oaktalon eram ditas suavemente, mas Genn sabia que era melhor não confundir sua gentileza com fraqueza.
Ele era alto e vestia uma armadura de couro e uma túnica de seda de uma cor que Genn nunca havia visto antes: azul ou talvez um verde, ele não conseguia dizer exatamente qual era. Uma linda plumagem estava pendurada com um pendão no enorme cajado que ele tinha na outra mão.
Genn ficou observando a mão oferecida a ele por um breve momento.
“Esse velho rei não precisa nem de sua ajuda nem de ninguém para sair de uma cama, Talar Oaktalon. Disso eu ainda sou capaz.” Ele se levantou, abraçando a onda de agonia que atingia suas costas.
Talar percebeu a reação de Genn e tentou disfarçar sua frustração antes de falar mais uma vez. “Venho com mais notícias ruins, honorável rei. Precisamos de você no convés… O perigo persiste!“
A tocha cintilou, removendo as sombras das muralhas de granito do alojamento dos convidados reais de Lordaeron. Genn e vários outros nobres de Gilneas estavam em viagem, respondendo a uma invocação emergencial dos senhores de Azeroth feita pelo Rei Terenas. Fazia poucas horas que eles ficaram sabendo da conquista de Stormwind pela Horda de orcs, e sobre os terríveis tempos que se seguiriam. Após um elegante jantar com vários reis, Genn retirou-se para seu alojamento para consultar com seus compatriotas. Não demorou muito para começar a argumentação.
“Esses mestiços verdes amaldiçoados podem muito bem estar em nossas portas se não agirmos, Lorde Greymane. Devemos nos unir nessa Aliança. Devemos fazer o que pudermos antes desses monstros atravessarem as terras dos outros reinos e acabarem na nossa.” Lorde Crowley era um homem inteligente, mais jovem que Genn, e um pouco menos esperto nos pontos delicados da política, mas muitos acreditavam que ele era um nobre com um futuro brilhante. Ele fez sua alegação aos senhores sentados na mesa com um fervor geralmente só visto no próprio Greymane.
“Realmente, Crowley. Entendo seus medos. Mesmo. Mas esses… orcs, como são chamados, ainda nem chegaram perto de nossas terras. Nem mesmo um pingo de sangue Gilneniano foi derramado. Meu coração sangra de tristeza por Stormwind, pelo jovem Príncipe Varian e seu herói, Lothar. É verdade. Mas será que eu devo arriscar meu povo a um fim similar? Será que compensa sacrificar a vida de um gilneniano se quer que seja por uma causa que não afeta ele?” Genn estava agitado. Essa ameaça orc era algo novo e estranho, mas ele não estava bem certo de que era uma ameaça que seu povo industrioso iria ver em suas cidades. No final, os orcs só eram brutos. Semi-seres. Monstros.
“Lorde, como você descreveu, as outras nações parecem ansiosas em ajudar. Se Trollbane, Perenolde e o resto participarem, não sei como poderemos nos chamar de vizinhos ou amigos se não nos unirmos a eles”, Crowley continuou. Genn entendeu porque ele era tão querido. Suas palavras eram ditas com um vigor aguçado. Não havia opiniões políticas no jogo – só um homem preocupado com seus próximos. Genn o respeitava não importasse quão equivocado ele estivesse. Crowley possivelmente não poderia entender a tolice de sua simpatia, ao que ela poderia levar. Ele não via que seu próprio povo, acima de tudo, precisavam ser os primeiros a serem levados em conta. Ele era jovem e novato entre a nobreza.
“Meu pai nunca achou que o futuro de nosso povo estava ligado ao caminho que Lordaeron, Stromgarde e Alterac tomassem. Alguns são fortes, Lorde Crowley, e alguns são fracos. Assim são as coisas. Nós Gilnenianos somos fortes, e Gilnenianos devem principalmente e primeiramente, cuidar do seu próprio bando.” Genn os tinha agora. Ele podia ver as cabeças concordando. Ele podia ver os nobres imaginando os primeiros relatórios das linhas de frente, as lamentações de mães que perdiam seus filhos. Ele podia os ver imaginando o peso do custo de uma vida que o pedido de Terenas e Lothar carregavam.
Mas então, uma voz marcante soou atrás dele.
“Por outro lado, meu lorde. Talvez para ficar nas boas graças com nossos reinos irmãos, garantindo que o comércio e as tarifas futuras continuem estáveis, devamos enviar uma pequena força. Uma para mostrar a eles até o que um pequeno grupo de militares gilnenianos pode fazer. Temos nosso exército preparado para atacar inimigos próximos. Vamos usá-lo.”
Seu nome era Godfrey. Genn confiava em seus conselhos, mas sempre suspeitava de suas ambições. A noção de Godfrey não era motivada pela empatia como a de Crowley. Era as jogadas políticas inteligentes que davam notoriedade a Godfrey, o comandante do exército. Mas ele destacara um ponto importante: o comércio e as tarifas realmente davam ao reino muita receita, e ameaçar essas vantagens não seria prudente.
“É um caminho que têm mérito, meu lorde”, adicionou o Barão Ashbury. Ashbury era um dos amigos de Genn que ele mais confiava. Genn havia crescido com ele; seu pai, Lorde Ashbury o 1º, havia ajudado Archibald a levantar a nação, e Achibald sempre disse à Genn para confiar na fidelidade dos Ashburys à coroa.
“Considerarei isso, é claro, Godfrey.”
Genn e Talar se apressaram em subir as escadarias para o convés. Uma sensação de urgência estava no ar. Até agora Genn estava impressionado com o tanto que esses navios elfos eram bem ornamentados. Artesanato feito em quase todos os detalhes. O tamanho total do navio e seus vários níveis estavam além até mesmo da ingenuidade de seu próprio povo.
“Parece que os Gilnenianos estão bem obstinados, Lorde Greymane.” A frustração de Talar havia aumentado no último dia.
“É uma qualidade que sempre admiramos de nós mesmos, bom druida.”
“Sim. Percebi.”
“Você vem sido muito atencioso, Talar, mas eu prefiro que fale como você realmente se sente. Desde que nos encontramos pela primeira vez, sinto que você tem muita suspeita. Por favor, me dê à honra de ficar fora dela.”
“Peço desculpas se assim pareço. Eu… Azeroth está em grande perigo, Vossa Majestade. Estamos em um tempo que temo que não possamos passar a menos que fiquemos realmente ligados… Você é um regente que escolheu separar todo seu reino do resto de seu continente. Você é um rei que rejeitou pedidos de ajuda ao longo dos anos. Como vejo, eu sou um druida. Eu acredito na inter-conectividade de todas as coisas. É assim que a natureza é feita. Um ecossistema. Essas escolhas são… estranhas para mim.”
“Eu devo muito a você e a seu povo, Talar. Talvez nossas diferenças sejam grandes. Mas não deixe que elas nos dividam.”
Talar curvou sua cabeça gentilmente. “Com certeza elas não irão. O Arque-druida Stormrage acredita que você e seu povo serão um ponto importante para a Aliança. Eu não questionaria sua sabedoria.”
“Um ponto para a Aliança?” Genn foi pego de surpresa. “Nós temos um grande débito com seu povo, isso é verdade… mas não posso oferecer a você ou ao seu líder qualquer garantia de que vamos, ou não, poder participar corretamente nos negócios de sua nobre Aliança como um ponto de qualquer importância.”
“É triste escutar isso. Mas isso são assuntos políticos. Nosso negócio hoje é sobreviver.”
A luz do dia lá fora estava fraca. Pequenos feixes de iluminação atravessavam as nuvens só para serem devoradas pelo horizonte escuro. O ar fresco de sal invadiu o nariz de Genn, e gaivotas cantavam terrivelmente alto à distância.
Dúzias de humanóides arroxeados estavam se ocupando, fazendo tudo que podiam para preparar o navio para o que parecia ser uma enorme tempestade. Mas entre as pessoas roxas ele podia ver seu próprio povo. Os peles rosadas e, é claro, os worgens: homens-feras lupinos e mulheres dispostas à aderir ao pedido de seus salvadores.
“Como pode ver, Rei, eles pretendem participar das preparações e ignoram as ordens dadas. Eles rejeitaram minha ordem de que todos os não-marinheiros fossem para baixo.”
Perto da proa, Genn podia ver duas Sentinelas, lindas mulheres guerreiras, tentando interromper um worgen que estava trabalhando nas velas. Não estava funcionando. O homem-lobo estava empurrando um terceiro marinheiro elfo, furioso por estar sendo posto pra fora.
“Você tem que entender que a missão em que fomos enviados não era originalmente em trazer os restantes da população para Darnassus. Era para ajudar os worgens. Já estamos em pouca quantidade. Olhe lá. Isso não é só uma chuvinha. Podemos estar enfrentando nosso maior obstáculo até agora”, continuou Talar.
“Tudo bem, Talar.”
Havia mais vários navios elfos no oceano cercando eles. Genn sabia que em um deles, na Radiação de Elune, estavam sua esposa, Mia, e sua filha, Tess: sua família. Era estranho pra ele, agora, pensar em sua família e não incluir seu filho. Doía mais do que qualquer dor física que ele já possa ter sofrido em toda sua vida. Doía mais do que perder um reino.
“Os batedores voltaram!” um vigia gritou do observatório, apontando para o céu desolador.
Três manchas negras se afastavam da grande bola de tempestade à frente deles. Eles foram entrando em foco lentamente, não mais manchas, mas grandes corvos da tempestade voando à uma velocidade perigosa em direção à Talar, o grasnado deles parecia uma cacofonia de urgência e, para Genn, parecia medo.
Então, os grandes corvos se transformaram. Genn ainda estava se acostumando a ver a transformação. Ele já havia escutado que o druidismo era praticado entre alguns gilnenianos do campo, mas eles não haviam se encontrado até recentemente. Os pássaros se torceram e sacudiram, transformando suas anatomias em formas mais naturais – aquelas de druidas kaldoreis, dois machos e uma fêmea.
O pânico estava escrito em cada uma de suas faces.
“Precisamos ordenar aos navios a tomarem uma ação imediatamente!” disse a druida fêmea.
“A tempestade… ela… não é nada com o que eu já tenha visto. Ondas com três vezes o tamanho de um gigante vêm com ela… O mar borbulha com destroços de navios quebrados”, disse um dos machos. Ele estava tentando com todas suas forças manter a compostura, mas seu horror era aparente.
“É como eu temia”, disse Talar. “Vá agora, rápido, avise os capitães. Um navio sozinho não irá sobreviver. Diga a eles que precisamos formar uma flotilha imediatamente!”
Sem hesitação os druidas se contorceram se transformando em corvos novamente antes de irem para as outras embarcações. Genn podia ver o oceano se turvando e nuvens escuras sufocando o céu não muito longe. Ele não era acostumado com viagens marítimas, mas a situação, até para seu limitado conhecimento náutico, pareceu séria.
“Esse maldito dragão negro ainda nos caça”, disse Talar. Foi o Talar mais emocionado que Genn viu desde que haviam escapado de Gilneas. “Esse Cataclisma… o mundo ainda treme; essas tempestades têm rasgado os oceanos…”
“Deathwing o Destruidor é um monstro, sem dúvida… mas imaginar que aquela fera causou todo esse Cataclisma… que os abalos ainda estão aí por causa dele… Eu não…”
“Acredite Genn Greymane. Como eu disse, estamos nos tempos mais sombrios de todos. Se sobrevivermos a isso, as preocupações de Gilneas serão só o início. Agora, leve seu povo para baixo do convés. Meus marinheiros precisam trabalhar com precisão, sem distrações. Envie ordens a seu povo em todos os navios.” Talar já havia começado a balançar seu braço para os marinheiros que estavam na ponte de cima.
“Podemos ajudar Talar. Meu povo é capaz… Eles irão querer tomar partido para salvar suas próprias peles.”
“Não há tempo para discutir! Prefiro que suas peles, como você diz, não acabem no fundo do Grande Mar como comida para as nagas! Nesta situação, em nossos navios, os Gilnenianos precisam cooperar.”
Pingos de chuva caíam. Uma grande torrente de água agora caía pesada na tripulação que lutava. O mar começou a levantar. Genn percebeu que este não era o momento ou local para seu povo disputar. Essa era uma situação onde eles teriam que deixar o destino deles nas mãos dos kaldoreis.
Os ventos uivavam, então, aparentemente do nada uma grande onda bateu no casco, inclinando o forte navio e jogando humanos, elfos e worgens pelo convés. Genn escorregou, então segurou forte em uma das cordas do mastro, fazendo tudo que podia para ficar de pé. Essa tempestade, esse tsunami, chegou mais rápido até do que os batedores previram.
Era difícil ver muito em sua frente agora; ele só via uma tempestade de chuva. Ele podia escutar os gritos de seu povo. Ele podia os ouvir eles discutindo com os elfos.
Impulsionando seu corpo para frente, Genn começou a gritar suas ordens para seu povo.
“Você quer fazer o que?”, Godfrey olhou para ele através do seu óculo fundo de garrafa. As implicações do que ele acabara de ouvir eram muito pesadas. Estava sendo bom que eles estivessem no salão de guerra.
“Você me escutou, Godfrey.”
“Você quer que suba uma muralha em torno de toda sua nação? Que feche suas fronteiras e acabe com o comércio com o resto da Aliança? Eu… essa é uma decisão muito grande, você não acha?”
“Já escutei a você e ao Crowley antes, e olha no que nos metemos! Gilnenianos mortos, estraçalhados por aqueles miseráveis verdes, e agora a Aliança, ah, essa ‘Aliança’ de que você está tão certo de que será um benefício para nosso povo… eles querem mais e mais todo dia. Eles tomam e tomam, mas o que recebemos em troca? Onde está à grande reciprocidade que vocês dois estavam tão certos de ter?! Agora eles querem que nós enviemos ouro para aquele forte… Nethergarde… O que aquele posto tem a ver com Gilneas… com meu povo?” Genn não estava em um estado para ser desafiado.
Godfrey olhou para o gasto mapa da nação que estava pela antiga mesa de carvalho. Ele levantou suataça de vinho e sabia melhor do que ninguém como levar um assunto adiante. Genn era um rei decisivo, assim como seu pai.
Godfrey tomou um grande gole de seu vinho. Era um Kul Tiras tinto. Ele percebeu, sentindo o sabor na sua língua, que esses poderiam ser os últimos goles do vinho daquela ilha que ele iria ter. E finalmente ele falou.
“Não estou sugerindo que seja uma má ideia. Mas, no entanto, eu acredito que”
“Nós demos a mão à Aliança. Nós demos o nosso apoio e olha o que eles nos deram. Como uma nação nós estamos pobres, enquanto ela ranca os benefícios de nossos contribuintes… Os orcs estavam ali… sangrentos, feras selvagens. Você os viu, do que eles são capazes… Agora Terenas quer mais do nosso ouro. Talvez mais do nosso sangue. Negarei!” As palavras de Genn eram ditas como a clareza de um homem que havia recebido uma visão.
“A muralha terá que cortar pela terra de um nobre. Você deve ter visto isso. Nenhumas de nossas bordas naturais servirão. Elas são todas muito flexíveis.”
“É claro que eu vi homem! Quem quer que seja, será compensado, assim como os fazendeiros e cidadãos de seu domínio.”
Godfrey tomou outro gole de seu vinho, pensando rapidamente, calculando suas opções e estudando o mapa. Ele sentou de volta na cadeira.
“Nesse mapa parece que você esteja sugerindo a possibilidade das terras do Lorde Marley… Mas olhe no terreno, meu senhor… Temos essa região montanhosa aqui. Daria uma grande segurança, com montanhas em cada lado que criariam uma barreira natural segura.”
“O que você diz é verdade.”
“É claro que, para isso, teríamos que passar por algumas das terras do Lorde Crowley. Cortando Pyrewood e Ambermill.”
“Também pensei nisso antes. É uma direção justa. Mas… Crowley é poderoso. Ele tem muita influência, mais até que você Godfrey. Pode ser que ele não aceite isso facilmente.”
“Não… isso é verdade. No entanto, ele deve ver a razão nessa escolha. Isso é o melhor para Gilneas. Qualquer um pode ver que isso criaria uma barreira impenetrável.” Godfrey pressionou, bebendo seu vinho enquanto esperava pela reação de Genn.
“Com certeza iria, Godfrey. E, é claro, faria de suas terras a mais valiosa estrategicamente, já que seria nosso pára-choque para o lado externo. Você teria as terras mais próximas à muralha.”
“Meu senhor, tudo isso tem a ver com localização, com Gilneas. Espero que o senhor não esteja supondo…”
“Pare Godfrey. Você está certo neste caso. Eu vejo isso… qualquer que possam ser seus motivos, velho amigo.”
“Majestade, eu -”
“Construindo a muralha por essas montanhas, com as terras de Northgate como nosso pára-choque, garantirá nossa segurança. Eu concordo com sua lógica. O Lorde Crowley… Darius terá que entender.”
Godfrey terminou seu gole e rapidamente encheu seu copo. Ele iria precisar de seus galões de vinhos e cerveja nos anos que viriam, e sabia disso. Mas hoje, como dizem nos climas trópicos de Booty Bay, ele havia transformado ‘limões em limonadas’. Ele lutava contra a vontade de sorrir.
“Então devemos convocar o conselho de nobres imediatamente.” Godfrey se levantou. “Esse é o caminho certo, meu senho, mesmo que pareça um caminho pobre.”
“Disso eu sei…” Genn parecia dominado pela oscilação da luz de vela. Ele a observou por um bom tempo, como se estivesse sonhando com o futuro que de alguma forma estava naquelas chamas. “Mas imagine… só imagine quão brilhante será nosso futuro sem qualquer interferência. Só imagine.”